Atualmente é fácil vermos crianças fazendo pirraça,
respondendo a seus pais, exigindo coisas, gritando, ou até mesmo os agredindo.
Por outro lado, também presenciamos cenas de pais gritando com seus filhos, não
conseguindo contê-los, numa explosão de fúria e impaciência. Essas cenas se
repetem frequentemente em shoppings, praças públicas ou lugares que são muito
frequentados por crianças e seus pais.
Diante desses episódios podemos nos perguntar... Será
que esses comportamentos são evidências de “crianças problemáticas” ou de pais
que por algum motivo, não estão conseguindo cuidar e educar de seus filhos? Ou relaciona-se
às duas coisas?
Geralmente, ao ouvirmos os pais que enfrentam tais
problemas, nos deparamos com as seguintes falas: “Meu filho deve ter algum
problema psicológico”, “Ele tem dislexia”, “Ele é hiperativo”, “Ele tem déficit
de atenção”, etc.; ou seja, no pensamento de alguns pais, o problema está na
criança.
Podemos perceber que por trás dessas falas e
pensamentos, há um grande desejo de se livrar de qualquer culpa e de localizar no
outro (nos filhos) uma doença que leve a culpa, preferencialmente uma patologia
que tenha solução fácil e rápida, através do uso de uma medicação psiquiátrica.
Vale ressaltar que se os pais projetam o problema no
outro, não é porque são maus, mas sim, pelo fato de não estarem conseguindo
lidar com tais situações internas que são muito angustiantes. Nesses casos é
recomendado que procurem ajuda, seja com pais mais experientes, psicólogos,
pedagogos, pediatras, ou outros. O importante é reconhecerem que precisam de
ajuda e não terem vergonha de buscá-la.
Se ouvirmos atentamente a esses pais, poderemos
notar que suas dificuldades em exercer a função paterna e materna são
provenientes: de questões pessoais, problemas relacionais com seus próprios genitores,
da maneira que foram cuidados e educados. É comum também presenciarmos a
dificuldade de pais e filhos lidarem com limites; o medo dos pais fracassarem
no cumprimento das suas funções - materna e paterna; o desejo de compensar com
presentes e agrados indevidos, uma ausência motivada por longas jornadas de
trabalho; a preocupação exagerada em prover para os filhos condições
financeiras e bens materiais que os mesmos não tiveram acesso; não querer que
seus filhos passem por alguma dificuldade, etc..
Se por um lado encontramos o desejo desses pais de
serem perfeitos e proporcionarem um mundo perfeito para seus filhos, por outro
lado, nos deparamos com a triste realidade de que não somos perfeitos, que o
mundo não é perfeito, e por mais que queiramos criar um mundo ideal para nossos
filhos, esse mundo nunca existirá. Em
algum momento, precisaremos nos conscientizar que as dificuldades e os limites
que a vida nos impõe irão encontrar nossos filhos, e que, se os mesmos não
estiverem preparados para enfrentar tais momentos, eles poderão apresentar severos
problemas psicológicos ou comportamentais como consequência do seu fracasso.
Também temos que ter clareza, que as dificuldades são
importantes e estruturantes, pois é a partir delas - da falta, da ausência ou
necessidade, que vamos aprendendo a valorizar a presença, o que temos e o que
nos é necessário para vivermos bem. São as dificuldades que nos colocam frente
a frente com o principio da realidade, que nos indicam até onde podemos ir, o
que podemos e o que não podemos fazer, o que devemos ou não devemos escolher
para nossas vidas.
Nesse sentido, dizer não para os filhos, por mais difícil
que seja, ensina-os que não podem ter e fazer tudo o que querem; que algumas
coisas precisam acontecer no tempo certo, da maneira certa, conforme eles vão
crescendo, amadurecendo e adquirindo capacidade de elaborar o vivido. Para
isso, o NÃO e o SIM precisam ser utilizados com mais assertividade.
Dizer somente sim ou somente não é errado. Não
devemos ser nem muito permissivos - dizendo somente sim e permitindo tudo, nem
muito repressores – proibindo nossos filhos de fazerem tudo. Os extremos sempre
são negativos. O mais assertivo é compreendermos junto a eles quais são suas
necessidades, suas capacidades, seus desejos, e sua maturidade para arcar com
as consequências de suas escolhas.
Enfim, como pais, precisamos entender que muito mais
que DAR PRESENTE, precisamos SER PRESENTE na vida dos nossos filhos. Está mais
que comprovado, que filhos que crescem imersos num ambiente acolhedor, que
possuem pais amorosos, presentes, conectados a eles, tem maiores probabilidades
de serem pessoas mais bem sucedidas, mais seguras, que acreditam em seu
potencial e conseguem enfrentar situações diversas por mais difíceis que sejam.
Pais amorosos e conectados não são aqueles que fazem
tudo o que os filhos querem, mais sim, aqueles que sabem dizer sim e não na
hora certa e da melhor maneira possível. Que bom seria se todos os pais passassem
por uma boa autoanálise antes de se tornarem responsáveis pela educação e
formação dos seus filhos, se isto ocorresse, provavelmente muitos erros
deixariam de se repetir.
Escrito por: André Luiz Gonçalves da Silva. Psicólogo Clínico. CRP 06/112291. Mestre em Psicologia Clínica - Psicanálise - PUC / SP. Consultório: ARARAQUARA - SP. Tel.: 16-98156-6087
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