domingo, 25 de junho de 2017

RELAÇÃO ENTRE PAIS & FILHOS


Atualmente é fácil vermos crianças fazendo pirraça, respondendo a seus pais, exigindo coisas, gritando, ou até mesmo os agredindo. Por outro lado, também presenciamos cenas de pais gritando com seus filhos, não conseguindo contê-los, numa explosão de fúria e impaciência. Essas cenas se repetem frequentemente em shoppings, praças públicas ou lugares que são muito frequentados por crianças e seus pais.
Diante desses episódios podemos nos perguntar... Será que esses comportamentos são evidências de “crianças problemáticas” ou de pais que por algum motivo, não estão conseguindo cuidar e educar de seus filhos? Ou relaciona-se às duas coisas?
Geralmente, ao ouvirmos os pais que enfrentam tais problemas, nos deparamos com as seguintes falas: “Meu filho deve ter algum problema psicológico”, “Ele tem dislexia”, “Ele é hiperativo”, “Ele tem déficit de atenção”, etc.; ou seja, no pensamento de alguns pais, o problema está na criança.
Podemos perceber que por trás dessas falas e pensamentos, há um grande desejo de se livrar de qualquer culpa e de localizar no outro (nos filhos) uma doença que leve a culpa, preferencialmente uma patologia que tenha solução fácil e rápida, através do uso de uma medicação psiquiátrica.
Vale ressaltar que se os pais projetam o problema no outro, não é porque são maus, mas sim, pelo fato de não estarem conseguindo lidar com tais situações internas que são muito angustiantes. Nesses casos é recomendado que procurem ajuda, seja com pais mais experientes, psicólogos, pedagogos, pediatras, ou outros. O importante é reconhecerem que precisam de ajuda e não terem vergonha de buscá-la.
Se ouvirmos atentamente a esses pais, poderemos notar que suas dificuldades em exercer a função paterna e materna são provenientes: de questões pessoais, problemas relacionais com seus próprios genitores, da maneira que foram cuidados e educados. É comum também presenciarmos a dificuldade de pais e filhos lidarem com limites; o medo dos pais fracassarem no cumprimento das suas funções - materna e paterna; o desejo de compensar com presentes e agrados indevidos, uma ausência motivada por longas jornadas de trabalho; a preocupação exagerada em prover para os filhos condições financeiras e bens materiais que os mesmos não tiveram acesso; não querer que seus filhos passem por alguma dificuldade, etc..
Se por um lado encontramos o desejo desses pais de serem perfeitos e proporcionarem um mundo perfeito para seus filhos, por outro lado, nos deparamos com a triste realidade de que não somos perfeitos, que o mundo não é perfeito, e por mais que queiramos criar um mundo ideal para nossos filhos, esse mundo nunca existirá.  Em algum momento, precisaremos nos conscientizar que as dificuldades e os limites que a vida nos impõe irão encontrar nossos filhos, e que, se os mesmos não estiverem preparados para enfrentar tais momentos, eles poderão apresentar severos problemas psicológicos ou comportamentais como consequência do seu fracasso.
Também temos que ter clareza, que as dificuldades são importantes e estruturantes, pois é a partir delas - da falta, da ausência ou necessidade, que vamos aprendendo a valorizar a presença, o que temos e o que nos é necessário para vivermos bem. São as dificuldades que nos colocam frente a frente com o principio da realidade, que nos indicam até onde podemos ir, o que podemos e o que não podemos fazer, o que devemos ou não devemos escolher para nossas vidas.
Nesse sentido, dizer não para os filhos, por mais difícil que seja, ensina-os que não podem ter e fazer tudo o que querem; que algumas coisas precisam acontecer no tempo certo, da maneira certa, conforme eles vão crescendo, amadurecendo e adquirindo capacidade de elaborar o vivido. Para isso, o NÃO e o SIM precisam ser utilizados com mais assertividade.
Dizer somente sim ou somente não é errado. Não devemos ser nem muito permissivos - dizendo somente sim e permitindo tudo, nem muito repressores – proibindo nossos filhos de fazerem tudo. Os extremos sempre são negativos. O mais assertivo é compreendermos junto a eles quais são suas necessidades, suas capacidades, seus desejos, e sua maturidade para arcar com as consequências de suas escolhas.
Enfim, como pais, precisamos entender que muito mais que DAR PRESENTE, precisamos SER PRESENTE na vida dos nossos filhos. Está mais que comprovado, que filhos que crescem imersos num ambiente acolhedor, que possuem pais amorosos, presentes, conectados a eles, tem maiores probabilidades de serem pessoas mais bem sucedidas, mais seguras, que acreditam em seu potencial e conseguem enfrentar situações diversas por mais difíceis que sejam.
Pais amorosos e conectados não são aqueles que fazem tudo o que os filhos querem, mais sim, aqueles que sabem dizer sim e não na hora certa e da melhor maneira possível. Que bom seria se todos os pais passassem por uma boa autoanálise antes de se tornarem responsáveis pela educação e formação dos seus filhos, se isto ocorresse, provavelmente muitos erros deixariam de se repetir.

Escrito por: André Luiz Gonçalves da Silva. Psicólogo Clínico. CRP 06/112291. Mestre em Psicologia Clínica - Psicanálise - PUC / SP. Consultório: ARARAQUARA - SP. Tel.: 16-98156-6087

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